01/11/2020

As guitarras e as verdades

As guitarras trinam Os pássaros chilreiam Os amores mimam As paixões incendeiam As perguntas incomodam As respostas chateiam As dúvidas inquietam As certezas rareiam As mentiras matam As verdades golpeiam

18/05/2020

Arroz doce

Que fazer num fim de tarde de sábado para dar descanso ao sofá, à TV e ao computador? Uma corrida até à cozinha, um (as)salto ao frigorífico e duas passadas até à despensa. Há 5ª foi na muche, finalmente acertei e elevei a fasquia. Reuni os cúmplices e atarefei-me na concertação dos mesmos. Pela ordem de entrada em cena: o tacho, sem capacete (assim manda a lei), tomou 3 copos de 250ml de água e nele mergulhei 1 de arroz macho (carolino) pré-lavado, 1 pitada de sal e fogo com ele. Deixar cozer lentamente e ao chegar perto do ponto da cozedura, acrescentar 1 copo e meio de leite, 1 copo de açúcar, 2 paus de canela, 2 cascas de limão. Ao atingir o ponto adicionar lentamente e misturando bem 2 gemas de ovos previamente dissolvidas em leite frio. Desligou o fogão, coloca em taças para levar à mesa. Numa delas coloca coco ralado no fundo e depois fale quando provar. Coma, comente, critique ou cale-se. Cúmplices: Água (3 copos) Pitada de sal Arroz carolino (1 copo) Leite (1+1/2 copos) Açúcar (1 copo) Cascas de limão (2) Paus de canela (2) Gemas de ovo (2) Coco ralado (1 colher de sopa)

21/02/2019

Até amanhã Companheiros II Passam os tempos as saudades resistem árvores tombadas agarradas às mesmas raízes que um dia as ergueram fortalecidas, perdendo a folhagem e as cores de outrora não pela idade, mas pelos ventos agrestes que as fustigaram… barraram o caminho que sempre fizemos e no qual sempre vislumbrámos a esperança do sol brilhar e a lua refletir o sonho de a alcançarmos… estivemos perto até ao momento do nosso guia ter perdido a bússola que nos dava a direção que tomávamos como certa… Preservamos a raiz, mas falta-nos o chão… cada um por seu caminho no encalce dum qualquer ponto de luz. O sol está a pôr-se e a lua mingua sobre as nuvens… Deixo-vos a esperança dos rios e dos mares que os espera. __________________________ José Freire 2019/02/21

01/02/2018

Mar e Sol

Se alguém me chamar
Que se faça ouvir
Estarei no mar
Ou para lá a ir

Mar de todos nós
que me rodeia
Com a Lua a sós
Na maré cheia

Navegar num poema
Voar como a gaivota
Barco feito de pena
Planando sem rota

Pousar no horizonte
na linha de fundo
erguer uma ponte
ligar o Sol ao mundo

Tela feita de céu
salpicado de estrelas
envoltas num véu
morar no fogo delas
_________________
By Pedro Arunca
2018/02/01

26/01/2018

Aluga-se quarto

“Aluga-se quarto
independente.
Com refeições.
Águas quentes e frias
Ambiente familiar.
Quinhentos escudos.”
Hóspedes desconfiados
olhares desamparados
Passam alguns dias
para mostrar o dente
mas continuam mudos
O mais calado é trolha
Faz tetos em gesso
O mais estranho não sei,
não suporta uma bolha
e usa um gel espesso.
Acho que é gay.
O madeirense faz um curso.
O cabo-verdiano, pedreiro
é a alegria no gira-discos,
mornas, funanás e coladeiras
O balconista, no Cais do Sodré,
com mordomias: tem cortina,
banhos diários e repete o café.
Sigo meu percurso:
de dia trabalho, de noite estudo
No Bairro Alto, corro riscos
Pelo caminho faço cadeiras
movido a cafeina

12/01/2018

Vale a pena?

Galo Inácio, foi o primeiro a despertar e, como sempre, a acordar toda a vizinhança. Subiu ao poleiro, para anunciar três novas moradoras do condomínio “Kap Oeiras”, e resumiu em roucos minutos a história delas: Dra. Galinda, oriunda de boas famílias de Palhais, que por infelicidade, se tinha refugiado no campo (arredores de Ourique), onde a sua reputação foi abalada por certas liberdades a que na cidade não se atrevera. Consta que depenou todos os galos daquela região aquentejana. Agora animada por um projeto de montar um SPA que se denomina Galapena, com sede no Largo Pinto Dacosta no centro da vila; Dona Fran Guida, de origem « alemã, vivera no Algarve, às custas do seu primo Zéze Pena Lisa (segundo as manas Cacareja). Com fama de empreendedora no sector financeiro, fundou a sociedade de investimento Coquelux, com sede no Cainão; A menina Gaga Lina, solteirona, sofrera uma grande pena, esteve noiva do monarca do Perú (que falecera na noite da véspera de Natal, bêbado que nem um cacho, esfaqueado na Beira do Tacho). Ninguém sabe de que vive… milho não entra na sua goela, apenas se alimenta de lentilhas, da gamela que trouxera de Porto de Galinhas. Ao fim da tarde, reuniram-se todos os moradores e vizinhos que viviam num anexo que dava para o quintal que a maioria sempre frequentava. Combinaram uma festa surpresa e sem exceção, deram as boas vindas, na receção. Bateram as asas em sinal de aprovação. Foi uma festa pela noite dentro, digna de reis: milho, hortaliças, farináceos, bebidas à descrição e uns cereais proibidos, ao som da musica com a presença do DJ Galão. Foi uma noite de arromba com alguns episódios que aqui se podem contar, outros não: O Tó Pinto que passara a noite a tinto, arrumou uma tremenda confusão, meteu o dedo no cu do povo à procura de algo novo. Foi apanhado com um ovo, pelo Pena Velha, que escondera debaixo duma telha. Foi expulso dali acusado de roubo e com sentença de pena de morte. Muito chorou Galinda, moradora do 1º direito (filha do Patanochão), pela perda de seu comparsa e cúmplice na sua perdição: contar estrelas deitada de costas no chão. Até Dona Pitinha, nos seus 90 anos, bebeu cerveja até cair, deu cabo da canela e adormeceu na panela. A Tia Pita, sempre apressada, grita aflita: Oh Patacos, onde gastaste você o dinheiro que dei para a poupança da compra da ração? Ele, na calma habitual, mostrando o jornal na página dos óbitos, pergunta: Sabes quem morreu? O Dr. Milheiro…coitado, atropelado por uma carroça. O burro foi parar à choça e do dono nem rasto. O burro fugira da feira, carregado de pasto recolhido na eira. Por fim, responde: . Oh mulher, achas que a comida que cai no chão, vem do céu? Investi tudo no Cainão e não tivemos sorte por causa da inflação, o que sobrou deu para apenas meio alqueire. Seja o que Deus queira. A esposa, cacarejou umas silabas, caminhando sob as silvas, foi apanhada por uma raposa. Ninguém deu por nada. Apenas o Patanochão se assustou com um pequeno alvoroço, mas como dera com um cão pensou que fora ele desenterrando um osso. Neste momento, devem estar a questionarem-se acerca dos outros personagens. Acontece que nem tudo correu mal e nem tudo é notícia de jornal. A receção foi contagiante e comovente: animação constante, música envolvente, pedradas naturais e bebidas a mais. Galo Inácio, fez a corte ao trio, uma de cada vez levo-as até ao rio e por um fio não se fez às três. Tropeçou num fio de pesca e caiu. Como não sabia nadar, ao segundo dia, emergiu após se afogar. Salva a honra, e da penúria, de GaLinda, temeu-se pela sorte das outras. Dedicou-se à dança do ventre ( 1milhão de seguidores no Facelook) actuando em todos os aviários do mundo. Deixou o SPA às moscas. A Fran Guida, na sua esperteza, envolveu-se com Patacos a quem, na sua avareza, julgava rico o pobre de viuveza. Apenas restava dinheiro para irem até a Vaso dos Catos. Acabaram seus dias servidos à mesa duma churrasqueira lá para os lados das Amoreiras (onde tinham escritório). Gaga Lina, com a envolvência da música do DJ Galão, apaixonou-se de paixão por ele mesmo. Já a noite subia alto, ao som uma balada baixa, ainda com escuridão, só se lhe ouvia dizer “sim” e nem um “não”. Fica por aqui esta brincadeira que me espera a ração. By Pedro Arunca ______________________ 2018/01/11

05/01/2018

Estrelas

Vigiadas pela sua mãe Lua
Brincam à noite as estrelas
Apaguem as luzes da rua
Deixem ver o sorriso delas
O esplendor da sua luz
a qualquer um de nós
Encanta, fascina e seduz
Não estamos sós
Atraem poetas e amantes
Somando noites em claro
Contando diamantes
Me rendo e declaro
A poesia enriquece
Nas noites de luar
O sol quando aparece
As estrelas vão-se deitar
__________________________
By Pedro Arunca 2018/01/05

29/12/2017

Viva o ano velho! Em cada ano novo que vem, parte com ele um pouco da juventude nos resta. Não vejo motivos para brindar e comemorar aniversários. Se, por cada sopro apagássemos uma estrela, onde depositávamos os sonhos?

01/11/2017

Nicole Atkins & The Sea - "Neptune City"

Pensei num poema

Pensei em escrever um poema
Imaginei o título e a cena
Faltou a tinta na pena
Entretanto esqueci o tema
Há outras formas de o fazer
Mas não sabia escrever
Como havia de resolver?
A cabeça já a ferver
A velha máquina na arrecadação
Pó e teclas soltas em confusão
Dar às letras a imaginação
Duvidei do sucesso da missão
Pensei em dar um jeito
A barra de espaços com defeito
E sem fita, nada feito.
As palavras junto ao peito
Encontrei o velho gravador
Com fita encravada no enrolador
As pilhas sem fornecedor
Alternativa é o computador
Ninguém para o digitar
Já com palavras para debitar
Sem voz para o declamar
O sono venceu. Vou-me deitar

14/04/2014

Na tua margem

A tua alma
acalenta e acalma
Na branca palma
da tua mão
o teu coração
vivo de paixão
Olhos de luar
Meu profundo mar
Que mágico lugar
Sei porque corro
Grito do morro
Pedi socorro
A paz prevalece
Nunca se esquece
quem nos aquece
Um beijo tardio
Balança o navio
Na foz do rio
Boa viagem
com ancoragem
na tua margem ______________ By Pedro Arunca 2014/04/14

27/06/2010

Gravitar

Misteriosa sedução
Silenciosa e sagaz fera que não fere
Invisível e envolvente teia me enleia
Estranha musica se entranha
Suspenso em divino canto
Gravito e levito
Circundantes chispas de fogo colorido
Etérea e poderosa força
Rompe fronteiras além de mim
Desconhecidos confins
Brisa de luz incandescente
Sonho ou Universo do avesso?
Abandono a questão
Rendido

27/12/2009

26/12/2009

12/11/2009

Anoitece

Imensa noite de eterno silêncio
Céu cravejado de infinitas estrelas
Misteriosa brisa, seduz.
Cúmplices, as árvores, trocam segredos
Dançam ao ritmo das sombras.
Sonhos crescentes na míngua do tempo
No confronto da luz perdem-se medos.
Leva-me, Lua Nova!
Leva-me, Lua Cheia!

11/11/2009

O grilo

Canta o grilo, de casaca,
noite e dia, sem ressaca
gri, gri, gri,
gri, gri, gri
tem bom ouvido
fica quieto e mudo
se escuta algum ruído
gri, gri, gri
Canta com mesma garra
que a famosa cigarra
gri, gri, gri,
gri, gri, gri
vestido sempre a rigor
sem cerimónia de gala
como merece um bom cantor

28/10/2009

Regresso

Renovado, regresso consciente de ter renascido. Grato a quem se empenhou e me deu apoio. Afastado das palavras e não das pessoas (algumas). Na sua ausência entrego-me ao silêncio da pintura.
Mudanças em curso. História a cumprir-se. Destino incerto, tal como o caminho, vago é ser lúcido porque não se adivinha. Não sei para onde vou, sei que não fico por aqui. Rumo além de mim.
Na apatia aparente revi gestos, palavras e gente.
Se com pedras se ergueram castelos (e também se destruiram) com pedras se fizeram estradas e barraram caminhos. Quero o meu livre, para fazer de algumas marcos da minha passagem.

09/08/2009

Até já

Vou indo…passarei os proximos 10 dias na horizontal, com tudo pago. Há 2 anos que esperava esta oportunidade. Será a minha prenda no próximo dia 11. Não convido ninguém mas Deus não faltará. Não deve haver bolo nem champanhe. Festa sim, com farpelas azuis e brancas.
Vou carregar pilha e espero bater o coelhinho da Duracel.
Levo muitos de vós na minha memória que desejo manter intacta. Quem entrou no meu coração não sai e quem está de fora, comigo no seu, pode entrar.
Esperem por mim. Prometo mudanças. Até já

22/07/2009

Sem título

 
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Pedro Arunca
Óleo s/ tela 46x61

10/07/2009

Samuel é marinheiro




Marinheiro corajoso
não sabia nadar
Num dia tempestuoso
viu seu barco afundar
a voz grossa e rouca
de pouco lhe valia
levou as mãos à boca
como o mestre fazia
Encheu o peito de ar
e gritou tanto, tanto
Fez-se ouvir em Qatar
Nunca acontecera antes
Pra seu próprio espanto
uma manada de elefantes
tirou a água ao mar
Foi a pé para casa
Quando lá chegou
tinha os pés em brasa
Meteu a chave à porta
mas não entrou
A chave estava torta
Entrou pela janela
aberta para o quintal
Na cama dormia a cadela
que nem deu sinal
No tapete fez paragem
e adormeceu no chão
cansado da viagem
Sonhou ser capitão.
-Samuel, acorda! Tens natação.
__________________
Desenho oferecido pela Debbie

29/06/2009

Como sou

Com palavras sábias
certezas e utopias
experiência e conhecimento
instinto e fé
construo meu caminho
Com lições de convivência
ditos e filosofias
acrescento pedaços alheios
Farinha de um grande saco
meu grão não é único
meu tempo também não
nem mais nem menos
sou fracção e produto
duma grande equação

01/06/2009

Presente do dia

Olha para mim.
O teu presente sou eu!
Dá-me a tua mão
leva-me onde quiseres
hoje nada te nego. Nada
vou seguir teus passos
estar atento às tuas palavras
jogar aquele jogo maluco
fazer pipocas
comer gelado
ver desenhos animados
jogar bowling e futebol
dar chutos na bola
desenhar um barco
dar cambalhotas
andar descalço
fazer uma tenda no teu quarto
O que dizes?
-Eu quero ir ao "Mec"!
Ao Meco?
-Não...ao Mac do Colombo.
Outra vez? Isso não. Fomos lá ontem.
-Vamos amanhã?
Amanhã, tenho de ir trabalhar.

05/05/2009

Entre a tela e o mar


Barco/Óleo s/tela (46x61)
Pedro Arunca 2009/05/05

04/05/2009

Chuva

Chuva, divina chuva
minha alma lava
meu corpo enxuga
Leva o frio
Traz o vento
Meu arrepio
Teu momento
O céu cumpriu
Ameaça cinzenta
Alguém tingiu
A água benta
Chuva, divina chuva
minha alma lava
meu corpo enxuga
Pelo ralo
Foge a folha
não me calo
Solto a rolha
O rio imundo
no mar rebenta
Esconde o fundo
Maré barrenta
Chuva, divina chuva
minha alma lava
meu corpo enxuga

27/04/2009

Tourada


Tourada/Pintura a óleo (50x70)
Pedro Arunca 2009/04/27
Obs.: já tem dono
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21/04/2009

Mais tela do que mar

É por estas e por outras que me ausento (das palavras e das pessoas).









08/04/2009

Ver ao perto

No rosto apagado
ergue-se, aceso, um cigarro
O fumo dá contorno às palavras
que se dissipam
ninguém as ouve,
ninguém as lê
Olhar fixo no horizonte
onde nada acontece
Histórias comuns
de ontem e de amanhã
Há passado e futuro
quando a Terra gira
Acorda gente
Acorda mundo
Deixar de fumar
Treinar o gesto
Usar lentes de ver ao perto
Deixar aproximar
Aqui, tudo mudará

11/03/2009

Composição

Almoço tardio
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04/03/2009

A fuga dos peixes

Nevoeiro no mar profundo
Um anzol prende o mundo
De inocentes predadores
a incautos pescadores
com redes de malha fina
rapamos o chão da mina
Já não molhamos os pés
no confronto das marés
os peixes entenderam
e não desobaram
abalaram sem rasto
escolheram um astro
A Lua perseguidora
já não é enganadora
O Sol mudou de turno
nosso sono é diurno.
____________________
Pedro Arunca (poema e imagem)

03/03/2009

Nas tintas


Barcos/Virgílio Sousa/Março 2009


Não pisem as papoilas/Pedro Arunca/Março 2009

Este foi o resultado dum encontro de amigos para a minha iniciação nas tintas.
O Gigi foi ao mar e eu fiquei em terra.
Ontem foi um dia diferente. Ele levou um robalo e eu vim de lá com uma salema.
Obrigado amigo, pela tua disponibilidade e incentivo. O próximo vai para ti.

03/02/2009

Pintado de fresco


Pintura a óleo de Virgílio Sousa (2009/Fevereiro)

No teu solo branco e nu
podia escolher o fundo
deitar palavras
ancorar o mar
fixar estrelas
pintar gente
colar coisas
pegar fogo
deixar pó
desenhar o mundo

No teu fundo vago e tosco
podia simplesmente
falar do horizonte
amarrar a vaga
criar o espaço
moldar o ser
colocar cor
ver arder
ser grão
tornar diferente


_________
Pedro Arunca
2009/02/03


Ao meu amigo Gigi, com um abraço. Obrigado pelo quadro (e jantar). Prepara-te para a minha Freijoada de Gambas.

30/01/2009

Janeiro

Janeiro friorento
manda chuva
manda vento
Congela o momento
do calor dum beijo

Lareira quente
pede lenha
pede gente
Conforta a quem sente
o lume no peito

Inverno de chama
dá terra
dá lama
Aquece a quem ama
o centro do leito

Serra nevada
quer tudo
quer nada
Esconde a madrugada
o sonho perfeito

Noite gelada
tem arrepio
tem geada
Apetece almofada
a quem nutre desejo
#9

14/01/2009

Contraventos

Branca memória de cava consciência
Oferta de intenções e gestos
Impossíveis contratos de bondade
Brilham gentilezas isentas de emoção
Treinam-se sorrisos magros
Falha o aperto de mão
Um olho não basta ou ser-se iluminado
Quem fala não escuta
Traduzam o sofisma viral
Inocente discurso estéril desculpado
Certificada balança infiel
A quem confiar a carta para Deus?
Promessas vãs
Sonhos do meu Universo

#8

18/12/2008

À beira dum poema

As mãos secam
se os dedos mirrarem
Expontâneas heras,
bebem de outras mãos 
O pinheiro sedento
leva raízes até onde deixarem
O calor, que refaz o corpo
é química sem explicação
Num permeável instante
o momento infiltra-se na pele
e o tempo deixa de contar
O silêncio percorre o gesto
e a palavra divaga no olhar
O rio, as gaivotas e a cidade
pousam no fundo da retina
e pintam um novo tecto 
com tintas por inventar
Encontro de versos 
numa estrada de afectos
à beira dum poema

15/12/2008

Noites claras

Onde o Sol queima e cega
Dispo-me e fixo a Lua
Das sombras interpreto os gestos
Faço do grito alheio o meu silêncio
Calo a voz, defendo a canção
Dias de horas confusas
Desejadas noites de sonhos claros
Incoerente sobreposição
Rosto de impensáveis lugares
Repetidos passos, mesmas pedras da rua
Devagar, ignoro o que me espera
Buracos são vazios do tempo
Esqueci palavras, jamais o olhar
Duvido da minha presença
Estranho tua figura

06/12/2008

perto de ti, ...meu mar

Minha guerra é a tua
num palco diferente
feridas do mesmo lado
lutar e sofrer diáriamente
A meio caminho conquistado
por caminho divergente
questionar a mesma Lua
pela maré descontente
Só o dia conhece bem
como se faz cada hora
partilha-se com os deuses
o que não se vê por fora
Querer viver mais vezes
onde o sonho nos levar
viajar muito, e além,
deste sistema solar
Enquanto o Sol aquecer
e a Terra puder rodar
o meu lugar é este
perto de ti,…meu mar

03/12/2008

Encontro de gente com palavras



Ao encontro das palavras
nas páginas dum café
Um livro cheio de gente
em conversas de maré

Na pausa dum cigarro
um pouco mais de mim
Poetas de pés de barro
Num lago com jardim

Apresentações sucintas
Na poesia que sobeja
prosa de letras distintas
Mais um gole de cerveja
 
Quarenta prisioneiros
Amarrados a um cordel
Registo de versos inteiros
momentos feitos de mel

São veias descarnadas
de caudal transbordante
linhas ensanguentadas
com coração a montante

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Dedicado à minha amiga Paula Raposo a propósito dos dois livros editados há dias: " 22 olhares sobre 12 palavras" e "Golpe de Asa". Mais informação
clicaqui 

29/11/2008

O presépio

Longe vão os Dezembros… Num desafio de corrida, eu e os “meus amigos”, apetrechados com sachos e velhas facas rombas nos sacos, percorríamos os olivais até às matas à procura do melhor musgo (alto, viçoso, compacto e fofo) para o presépio. Havia entusiasmo e euforia logo nas primeiras combinações e, ainda mais, no passeio. Pelos carreiros e “caminhos de cabras”, partíamos determinados à descoberta dos melhores locais do nosso tesouro verde que, com mais olhos do que o espaço em casa, sempre nos sobrava.
O pinheiro, já cortado, tivera outros heróis. Alguém “mais velho” comandara a trupe por atalhos menos frequentados. Havia que ter cuidado e não sermos apanhados pelo dono ou alguém de guarda ao pinhal. Cada um escolhia o pinheiro do seu agrado e, pela socapa, a serrote e machado era cortado e levado de arrasto pelo tronco.
Bugalhos e bolas de papel embrulhados, em “pratas” coloridas - dos chocolates e dos maços de cigarros –, guardadas ao longo do ano dentro de livros, faziam parte da decoração do pinheiro de Natal. O seu efeito, embora de luz e cores menos vistosos, era para nós tão luminoso e igualmente mágico, como as lâmpadas e “bolas” de enfeitar, vendidas nas lojas e centros comerciais. Mais valor e brilho tinha o orgulho de as termos feito.
Num canto do chão da sala; sobre um tampo de madeira, platex ou cartão; sob o pinheiro, erguia-se o majestoso cenário. O improviso e imaginação projectavam montes, lagos espelhados e vales. Construíamos o estábulo com paus, cacos, caruma, palha e… sei lá que mais. As figuras tradicionais, pintadas sobre o barro cozido, tinham formas e cores dignas e colocadas nos seus lugares com papéis bem definidos. A neve de algodão; a água de espelhos; figurantes de cartão; bonecos de outra nação.
Uma estrela dourada orientava os Reis Magos ao seu destino, no trajecto que queríamos. Quando chegasse o momento, eles apareceriam e cada dia mais próximos do Menino. De terra e areia se faziam os caminhos. Aquele pedaço de chão verdejante era o Mundo, era Belém. Aquelas figuras de cartão e barro eram o Mundo, eram alguém.
O Menino cresceu e nós também. Alguém viu uma estrela? Onde estarão os Reis Magos? Dezembro está a chegar. Outros caminhos fazem o Mundo. Este pedaço azul é o Presépio. O Homem é quem?

18/11/2008

Dança sem regresso

roda teus braços em arcos paralelos
e alternados movimentos circulares
e faz teu corpo gingar
num lento e sensual vai-e-vem
e balança, como barco num agitado cais
recolhe-te ao beijo da terra
e estende teu véu
esboça um botão de rosa
com tuas mãos em prece
e inclina teu busto
cesta de generosos frutos
esperado momento
e minha dança vai começar
em gestos, de movimentadas sombras,
que avançam e hesitam como labaredas,
chamas e fogo vivo
para me acender do teu olhar
e queimar no teu rosto
e derreter em ardentes lábios
meu corpo treme em arpejos
meus dedos deslizam ao teu redor
num magnético e quente halo
tocam cordas imaginárias como se fosses harpa
e ajoelho-me sobre ti,
as minhas mãos despertam
notas baixas dum piano de emoções
citaras e tambores ocupam os meus sentidos
e tudo se move à nossa volta
e acontecem tempestades de sons
e explodem estrelas de todas as cores
e o chão afundou-se numa espiral
e não tenho onde regressar