Expontâneas heras,
bebem de outras mãos
18/12/2008
À beira dum poema
15/12/2008
Noites claras
Dispo-me e fixo a Lua
Das sombras interpreto os gestos
Faço do grito alheio o meu silêncio
Calo a voz, defendo a canção
Dias de horas confusas
Desejadas noites de sonhos claros
Incoerente sobreposição
Rosto de impensáveis lugares
Repetidos passos, mesmas pedras da rua
Devagar, ignoro o que me espera
Buracos são vazios do tempo
Esqueci palavras, jamais o olhar
Duvido da minha presença
Estranho tua figura
06/12/2008
perto de ti, ...meu mar
num palco diferente
feridas do mesmo lado
lutar e sofrer diáriamente
A meio caminho conquistado
por caminho divergente
questionar a mesma Lua
pela maré descontente
Só o dia conhece bem
como se faz cada hora
partilha-se com os deuses
o que não se vê por fora
Querer viver mais vezes
onde o sonho nos levar
viajar muito, e além,
deste sistema solar
Enquanto o Sol aquecer
e a Terra puder rodar
o meu lugar é este
perto de ti,…meu mar
03/12/2008
Encontro de gente com palavras
Ao encontro das palavras
nas páginas dum café
Um livro cheio de gente
em conversas de maré
Na pausa dum cigarro
um pouco mais de mim
Poetas de pés de barro
Num lago com jardim
Apresentações sucintas
Na poesia que sobeja
prosa de letras distintas
Mais um gole de cerveja
Quarenta prisioneiros
Amarrados a um cordel
Registo de versos inteiros
momentos feitos de mel
São veias descarnadas
de caudal transbordante
com coração a montante
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Dedicado à minha amiga Paula Raposo a propósito dos dois livros editados há dias: " 22 olhares sobre 12 palavras" e "Golpe de Asa". Mais informação clicaqui
29/11/2008
O presépio
Num canto do chão da sala; sobre um tampo de madeira, platex ou cartão; sob o pinheiro, erguia-se o majestoso cenário. O improviso e imaginação projectavam montes, lagos espelhados e vales. Construíamos o estábulo com paus, cacos, caruma, palha e… sei lá que mais. As figuras tradicionais, pintadas sobre o barro cozido, tinham formas e cores dignas e colocadas nos seus lugares com papéis bem definidos. A neve de algodão; a água de espelhos; figurantes de cartão; bonecos de outra nação.
Uma estrela dourada orientava os Reis Magos ao seu destino, no trajecto que queríamos. Quando chegasse o momento, eles apareceriam e cada dia mais próximos do Menino. De terra e areia se faziam os caminhos. Aquele pedaço de chão verdejante era o Mundo, era Belém. Aquelas figuras de cartão e barro eram o Mundo, eram alguém.
O Menino cresceu e nós também. Alguém viu uma estrela? Onde estarão os Reis Magos? Dezembro está a chegar. Outros caminhos fazem o Mundo. Este pedaço azul é o Presépio. O Homem é quem?
18/11/2008
Dança sem regresso
e alternados movimentos circulares
e faz teu corpo gingar
num lento e sensual vai-e-vem
e balança, como barco num agitado cais
recolhe-te ao beijo da terra
e estende teu véu
esboça um botão de rosa
com tuas mãos em prece
e inclina teu busto
cesta de generosos frutos
esperado momento
e minha dança vai começar
em gestos, de movimentadas sombras,
que avançam e hesitam como labaredas,
chamas e fogo vivo
para me acender do teu olhar
e queimar no teu rosto
e derreter em ardentes lábios
meu corpo treme em arpejos
meus dedos deslizam ao teu redor
num magnético e quente halo
tocam cordas imaginárias como se fosses harpa
e ajoelho-me sobre ti,
as minhas mãos despertam
notas baixas dum piano de emoções
citaras e tambores ocupam os meus sentidos
e tudo se move à nossa volta
e acontecem tempestades de sons
e explodem estrelas de todas as cores
e o chão afundou-se numa espiral
e não tenho onde regressar
16/11/2008
07/11/2008
o palhaço
Crianças felizes soltam gritos e risos ao vê-lo surgir.
Ao som da música, cantam com palmas cada refrão.
Assim conquista, para o meio da pista, seu coração.
- Meninos e meninas…! Meu nome é….Tra-pa-lhão!
Sou um Faz-Tudo, mas tudo, tudo me faz con-fu-são.
Conseguem imaginar um palhaço a voar?
Pois, isso aconteceu – com os tambores a rufar.
As luzes apagaram-se e todos se calaram.
- Sou um pirilampo as-tro_nau_ta!
Estou cá em cima para dar luz à mal_ta.
Com uma lanterna acesa, presa ao peito,
e ferramentas penduradas ao dispôr;
o palhaço deu um jeito em cada projector.
Ouviu-se um estrondo e uma explosão.
A luz, cheia de espanto, volta com aplausos da multidão.
Magia e surpresas nos bolsos sem fundo.
Fossem assim magos, os governantes do mundo.
Sorriso pintado, num olhar rasgado, longe da luz cruel,
arrancado às cerdas dum pincel.
O verdadeiro rosto, deposto, no espelho do camarim.
No melhor fato, feito com trapos, a ganga e o cetim.
Unidos, são remendos coloridos que dão tom à vida
e ao mundo da gente pequena e da gente crescida.
05/11/2008
Sobre viventes
de poemas esquecidos,
livres, à margem dos livros
Ressuscitam poetas
de motes vividos,
presos, dentro dos vivos
Nascem filósofos
de resumos lidos,
imunes, acima dos crivos
01/11/2008
31/10/2008
Nos meus elementos
Quero ser terra
21/10/2008
A noite sendo
Para fora, assunto encerrado.
18/10/2008
Codornizes com castanhas
Codornizes: 12
Castanhas: 800 g
Bacon: 10 fatias
Pikles: 1 frasco peq.
Cerveja preta: 2 (x33cl)
Cenouras: .....2 médias
Cebolas:....... 3 "
Alhos:.......... 3 dentes médios
Tomilho:....... 2 colheres de chá
Margarina ou banha de porco: q.b.
Sal:.............. q.b.
Pimenta:....... q.b.
Preparos:
Fazer marinada com: cervejas, sal, os alhos moídos, pimenta e tomilho.
Mergulhar as codornizes na marinada, uma a uma, calcando-as bem de modo a "absorverem" o "molho". Devem nadar de 6 a 12 horas.
Mãos à obra:
Cortar as cebolas e as cenouras em rodelas finas.
Untar o tabuleiro com margarina ou banha (ou 50/50). Colocar as rodelas de cebola e de cenoura de modo a taparem o fundo e, por cima dispor as fatias de bacon.
Juntar as codornizes, abertas para cima, intercalando os pikles. Cobrir com as castanhas e regar com parte do "molho" da marinada. Levar ao forno (+180º), cerca de 1 hora e vigiar o molho e a assadura, com regas pontuais, utilizando o resto da marinada.
Escolha um bom vinho tinto e......... bom apetite.
16/10/2008
Livro de cabeceira
Desfolhe com doçura
Não páres num resumo
nem nas notas de rodapé
sublinhei frases de rumo
Noites brancas com café
dias negros à luz do fumo
tuas linhas foram meu prumo
Vê quem deitas à cabeceira
para te ler nas folhas nuas
vão dormir a noite inteira
14/10/2008
Foge
Ferve a água para o chá de cidreira que te acalma
12/10/2008
Nunca te disse adeus
simplesmente, nunca parti
Para além do desejo,
resisto à crueldade do tempo
Vivo suspenso num beijo
Refaço-me, inteiro,
dos destroços que nunca abandonei
Teimoso mar de melancolia
Explicável vontade, repleta de sentidos,
justifica palavras e memórias intactas
capazes de te adivinharem na noite mais escura
Se a saudade corrói, tenho salitre na alma
03/10/2008
Hipotódromo da má língua
Atmosfera: animal que polui o ar que respiramos
Arroto: o buraco na camada de ozono
Botão: urna de voto no Porto
Carrocel: mais conhecido por ramona
Engalinhar: optar por engenharia
Engraxar: dar graxa ao engenheiro
Esquerdista: o que se afasta mais à direita
Gangsterismo: psiconeurose relativa a gangas
Genérico: o que o pobre diz ao médico antes de passar receita
Genética: o que devíamos passar aos nossos filhos
Homérico: o que devia pagar a crise
Janotice: facto conhecido
N€urastenia: irritação provocada pela falta de euros
Paralelo: que se destina a indivíduo de etnia cigana
Petalismo: sistema que preconiza a mentira
Socioeconómico: parceiro que faz pouca despesa
Terracota: antiga localidade
Tortilha: ilha torta
Tóxico: António Francisco
Transparente: transporte de família
02/10/2008
Fragilidades
Gostava saber e explicar a razão desta anomalia. Duma coisa estou certo: não é da energia que consome, embora mais cara, de toda a UE, não passa fome. Tenho alternativa? Será problema do cursor que vive, todo o ano a poemas e mágoa, pendurado no monitor de écran plano?
Os meus amigos entendidos nestas matérias dão palpites, porque andam ocupados, ou não atendem, porque ainda estão de férias. Não sendo barra em informática, sequer coisa alguma, pela lógica da matemática deduzo, das duas uma: ou é do hardware ou é do software. Nunca do operador!
Passaram três anos, é natural um certo desgaste mas não é assim tão velho que já mereça reforma. Não vou em cantigas e não o carrego com muita treta. Não o tenho de dieta mas abuso da Internet. Num momento, está bem; noutro, pego no rato e o cursor, feito jumento, não obedece. Por mais que faça ele não mexe. Se julga que é gente, está bem enganado, não vai a murro acaba desligado. Casmurro, tento um recurso, desligo-lhe o cabo - não preciso de curso em USB -, e, sem mais nem porquê, assim que o ligo, funciona. Problema de mona a afectar a memória local ou algum dano, de ataque Trojan, contra o sistema do Tio Sam. Quem sabe, talvez uma virose infiltrada no Spam do marketing global . Assim se vê a fragilidade do meu PC!
28/09/2008
Há dias assim
De repente, um trovão fez o meu coração saltar. Acordei assustado. Decidido a pôr um fim aquele tormento, resigno-me sair da cama nesse momento. Esfrego os olhos remelados, ponho um pé no chão e, ainda os dois não estavam colados, sinto o tapete fugir. De braços esticados, agarrei-me ao candeeiro. Eu caio primeiro; ele, certeiro atinge-me na cabeça e fica aceso. Possesso com tal confusão, apoio uma mão na parede e outra na mesinha de cabeceira para me endireitar. O que aconteceu não sei explicar, fomos os dois ao soalho e no meio dum palavrão ouço o rádio tocar. Não fosse a dor na testa e, de novo, aquele (!) barulho dos estores, diria estar a acordar dum pesadelo dos piores. Levo as mãos ao cabelo e dois dedos mais atentos descobrem um galo (?!). “Era só o que me faltava”, pensei.
Inseguramente, fiquei mais de cinco minutos estendido, dorido e zamboado, meio dormente. Contrariado, fui de joelhos, ver-me ao espelho da casa de banho. O galo aumentara de tamanho. Com que cara vou hoje trabalhar? A custo, lá me lavei. Hesitei na camisa e mudei duas vezes de gravata, uma porque tinha um buraco e a nova uma nódoa. De fato cinzento a condizer com a minha pasta preta (e ocasião) pego nas chaves do carro e saio porta fora. Detesto o cheiro de cigarro no elevador. Saí no piso inferior e desço oito lanços de escadas. Para a garagem, não é meu hábito ir por ali; em vão procurei o botão da luz e catrapuz, bati com a cara num pilar e esmurrei o nariz. Falhei por um triz a minha viatura.
Depois desta aventura, acham que fui trabalhar? Contei metade da história, para abreviar. Ficou por dizer, desse dia sem memória, outras coisas por que passei: cortei-me com a lâmina de barbear; o carro esteve dois dias parado com as luzes ligadas, não funcionou; com falta de rede voltei a casa para avisar aos colegas, do meu atraso; subi dez lanços de noventa e tantos degraus (!).
Há dias maus? Molhado que nem um pinto já não sei o que sinto. Dos nervos e do cansaço também não sei o que faço. Uma coisa me corre bem: o suor, em bica, generoso onde cada poro contribui com mais de um pingo. De novo, com outro fato vestido, não me dou por vencido e faço a ligação, ouço uma gravação: “blá, blá…………os nossos serviços estão encerrados...blá, blá”. Com toda a calma do mundo (e arredores!!!), pouso o auscultador, subo os estores e vejo lá fora um dia de Verão e ligo o comando da televisão no canal habitual. A esta hora, desenhos animados? Alguma coisa deve estar mal. Após este meu triste relato, e para encher mais o prato do dia, uma má notícia: o Sporting perdeu com o Benfica. Bingo!!! Afinal, hoje é Domingo!!!
27/09/2008
18/09/2008
11/09/2008
10/09/2008
30/07/2008
Aprender a fazer nós
Mata a nossa alegria
Alivia o sofrimento
Ver o nascer do dia
Cada um com sua cruz
Qual delas a mais pesada
Se o tamanho não reduz
Encurtemos a caminhada
Quanto maior é o percurso
Mais custa carregar
Procurar outro curso
A própria Natureza
Nos dá boas lições
A água das represas
Escapa nas evaporações
Ninguém se gabe de amar
Sem nunca ter sofrido
Há caír e levantar
O amor não se reclama
Nem se sujeita a nada
Só damos pela chama
Com a pele já queimada
Muitas estrelas tem o céu
Cada um procura a sua
Há a quem baste o que é seu
E quem dispute a Lua
A vida é uma montanha
Onde não chegamos sós
Com uma corda não é façanha
Se dos erros fizermos nós
__________
2008-07-30
29/07/2008
Minha caravela
fiz o meu primeiro barco
Numa folha de papel
fui Dias, Gama e Zarco
Linha curva na horizontal
e dois arcos inclinados
uniam outra linha igual
em ângulos calculados
Havia uma enorme vela
e um sol imponente
Da minha caravela
partia um palmo de gente
No porão cabiam os sonhos
e outras mil invenções
Não levava monstros medonhos
nem outras inquietações
A cruz dos Descobrimentos
pelo mar azul imaginado
Erguia monumentos
em cada porto alcançado
Das minhas viagens
só me lembro das partidas
e de fazer as ancoragens
nas histórias muito lidas
Os piratas ficavam nos livros
fechados a sete chaves
Os primatas davam gritos
Assustadas, fugiam as aves
Naquele pedaço de papel
cheio de côr, céu e mar
cabia o mundo nele
havia espaço para sonhar
______________
Pedro Arunca
2008-07-29
07/07/2008
Pilita
Agora, amolengou
Antes que a cobra morda
Vou atá-la numa corda
Pra na me fugir
Leva tempo pá acordari
Já nem se sabe esticar
Más lenta cum caracoli
Enrola-se no mê lençoli
Ninguém a tira dali
Deu em perguiçar
Nada a faz levantar
Já não dá com o monti
Nem bebe água na fonti
Que bicho lhe mordeu?
Parece defunta que morreu
Deu-lhe pra enjoari
Nem lhe apeteci cheirar
Na juventude fazia inveja
Tinha más gás cuma cerveja
Sempre pronta pra brincar
Cu diga a minha Maria
Era nôte e era dia
Até as mulheres lá da vila
Marcavam lugar na fila
Para eu lhas mostrar
Uma moira a trabalhari
Motivo do mê orgulho
Fazia cá um barulho
Entrava pelos quintais
Espantava os animais
Eram duas, três e quatro
Da cozinha até ao quarto
E até debaixo da cama
A bicha tinha fama
Punha todo num alvoroço
Desde mê tempo de moço
A idade na perdoa
Levara um vida boa
Depois de tanto caçari
Merece descansar
Já contava mê avô:
Está no sangui das gerações
Nada de confusões
Esta história aqui escrita
É a da minha gata Pilita
Pedro Arunca
2008-07-07
01/06/2008
A terra por cumprir
Soldados em guerras de água e sal
Marinheiros a custo forjados
Carregaram bandeira ocidental
Estranhos mapas revelados
Para muitos a viagem fatal
Novos impérios e desertos de fé
Brilho dourado e aromas de café
Mares de sonhos passados
Agulha louca de barco triste
Destinos para sempre cruzados
Imponente mastro que resiste
Lua furtiva em céu sem estrelas
Assobio do vento nas rotas velas
Ainda jorra sangue das veias
Há mais castelos nas areias
Terra firme de gente insegura
Velho porto de abrigo sem mar
Chama viva que perdura
Outros mundos por desenhar
Amolecer a côdea dura
Num hino por inventar
O horizonte não está perdido
_______
Pedro Arunca
2008-06-01
15/05/2008
Pequeno acidente de viação
carregado com carvão
e, na sua direcção,
uma carroça em contra-mão.
Mas que grande confusão.
Um apita, o outro não.
Dá-se uma grande colisão.
Sem qualquer explicação
Juntou-se a multidão
que ficou sem reacção.
O motorista, vermelhão,
deu uma justificação:
- Alguém me deu um empurrão
e os meus pés não chegam ao chão.
O polícia, espertalhão,
fez-lhe o teste do balão e
chegou à seguinte conclusão:
- O culpado é este anão!
Nisto, chega uma senhora de roupão:
- Sabes que horas são?
Arruma já os peluches do teu irmão
e veste o pijama azulão!
Quem é que fez mal ao cão?
- Eu não! Eu não!
Onde está o João?
- Mãe, sonhei que era policia. Acordei com um barulhão.
Vi bonecos a correr, numa grande aflição.
Assumi a minha posição
e fiz uma grande investigação. Imagine a situação:
o Bobi, amarrado ao triciclo, com um grande arranhão;
o mano - debaixo da cama - a queixar-se da mão,
foi apanhado a conduzir, sem carta de condução,
o andarilho sem travão.
Tomei uma decisão:
Chamei o 112 para o acidente de viação e libertei o cão...
10/05/2008
25/04/2008
Em Abril sonhos mil
Contra a evolução dos cravas
Oportunismo é fatal
Queremos um estado novo
Onde contem com a malta:
mais pessoas e menos "povo"
Paz, pão e educação
Analfabetismo nunca mais
Vida aos filhos da Nação
Deixem-nos livres para pensar
Viva a nossa reacção
É preciso despertar
Derrubemos a burocracia
Ergamos uma nova bandeira
Calemos a hipocrisia
A Terra a quem a respeita
Nela só há uma verdade:
não tem esquerda nem direita
Abaixo o comodismo
A memória a quem esquece
Morte ao conformismo
O poder a quem merece!
Abril
semeavam ideias.
Na lavra dos homens
a razão, clandestina.
As prisões cheias,
campo de reféns.
A monte, sem eira.
Noite companheira.
Na sombra dos livros,
ocultos perigos.
O poder, de uniforme,
governava a fome.
Canções caladas.
Poemas de alerta.
Palavras vigiadas.
O sol era quadrado.
Calava-se o poeta.
O cerco apertado.
No ponto de mira,
o destino africano.
Cada bala no cano,
uma vida que tira.
Luto nos pelotões.
O sangue nas fardas:
medalhas manchadas.
Cartas negras. Lições.
Mas a fé não abala.
Na aldeia e na sanzala,
reza-se pela mudança.
A paz tem muitas cores.
Nos quartéis de esperança.
Soldados em marcha,
empunham flores.
Derrubam as barreiras
e mudam as bandeiras.
Podemos falar.
__________
Pedro Arunca
2007/04/25
29/03/2008
Nosso caminho
Percorremo-lo, uma vez, sem marcha-atrás
Por vezes íngreme, plano e de combros
Corremos, paramos e damos nossos tombos
Deixamos marcas que nos somam os anos
Movem-nos poucas certezas e mais enganos
Fixamos rostos. Uns marcamos e outros não
Sorrisos e memórias que cabem numa canção
Não importa o quanto mais longe chegamos
Mas sim o que aprendemos e deixamos
A todo o momento pudemos fazer por mudar
_______
Pedro Arunca
08/03/2008
Mulher
Forte árvore, frágil semente
Gera, ama, ri, sofre e sente
Sentimentos que desperta
Nossa única morada certa
Sem ela, Terra deserta:
sem calor seria a vida
sem razão seria o amor
sem ardor seria a ferida
sem emoção seria a dor
Defini-la numa palavra, é pouco
Não a achamos num grito rouco
Talvez lhe agrade um poema louco
Ver seu nome numa canção
Subir ao céu num balão
Um gesto da nossa gratidão
________
Pedro Arunca
15/02/2008
Latejo
Horas que são tuas
Na boca o beijo
De antigas ruas
♥
Nunca falar
Do que despertas
Escrever e calar
Páginas desertas
♥
Adivinhasses
Chamasses
Estava
♥
Rio parado
Diques recentes
Corpo deitado
Não sentes
♥
Nas veias o amor
Inundado coração
Sangue e calor
Latejar de emoção
2008/02/14
14/02/2008
S Valentim
Dia dos namorados
Pior do que solteiro
é ficar nos encalhados
Bombons e chocolates
com raminhos de flores
Frases nos escaparates
resumem os amores
Berloques e bugigangas
eternas recordações
Mimos são missangas
no colar das paixões
Muitos dias tem o ano
esquecidos dos festejos
Vamos corrigir o dano
Declaremo-nos com beijos
Cada um é jardineiro
do seu próprio jardim
O Amor sempre primeiro
Viva S. Valentim
________
Pedro Arunca
2008-02-14
13/02/2008
Os especialistas
Uns engenheiros, alguns doutores
Falam dos males e avisam os perigos
Vivem de avales mas acusam amigos
Falam de tudo, das coisas e de todos
Debitam palavras e sentenças a rodos
Discursam horas a fio, sem pausas
Descobrem a origem de todas as causas
Semeiam frases e ditos de outra lavra
Eruditos na dicção, na pose e na palavra
Falam da política, religião e de ciência
Só lhes falta um pouco de paciência
Há caminhos de pedras, marcados
e verdes de musgo, ignorados
Não pisaram a lama dos carreiros
Dos homens, dos bois e dos carneiros
Ressuscitam os mortos e enterram os vivos
Refugiam-se, fechados, em pilhas de livros
Comem fatias de pão descôdeado
Temperam tudo com sal refinado
Escrevem em todos os jornais
Só eles têm tempo para mais
Com tanta lucidez e tanto preceito
Não há quem ponha isto direito!
Tudo o que espirram tem nexo
Têm opinião, mas praticam sexo?
_________
Pedro Arunca
2008-02-13
09/02/2008
J' adore
28/01/2008
Poema alentejano
encontréi o mê amori
Pus-me estressando
Tal era o mê calori
Tropecei num caracóli
Fui c'as bentas ao chão
Estendido ali ao sóli
Pedi logo a sua mão
A moça tod'encarnada
disse qu´eu era louco
dê-me uma estalada
e disse qu'era pouco
Mas a cousa piorou
quando ma declarei
Disse-lhe tudo o que sou
e ali mesmo m' atirei
Home de poucas letras
mostrei minhas virtudes
Na me fio cá em tretas
Assumi as atitudes
Levei mais um murro
vi mas de mil estrelas
Mais esperto é mê burro
que sabe escolhe-las
na se mete nas encrecas
e está sempre a comer
Más tardi cand'acordei
ca barriga a dar horas
lá m'alevantei
dorido e com demoras
Nã sê se foi do tinto
ou talvez das chouriças
Fora compadre Jacinto
que m'arreara nas bêças
_______
Pedro Arunca
2008/01/28
23/01/2008
Há mulheres...
... tímidas, furtivas e até ousadas;
... frágeis, atrevidas e até magoadas;
... corajosas, impulsivas e até apagadas;
... ambiciosas, dinâmicas e até realizadas;
... decididas, sensíveis e até desesperadas;
... cultas, atentas e até abandonadas;
... modelo, sexy e até ignoradas;
... comuns, discretas e até amadas;
... filhas, mães e até educadas;
... felizes, solteiras e até casadas;
... faladoras, de burca e até caladas;
... vaidosas, convencidas e até adoradas;
... de ninguém, viúvas e até desejadas;
... negras, claras e até pintadas;
... famintas, satisfeitas e até conformadas;
... honestas, fiéis e até enganadas;
... virgens, prostitutas e até frustradas;
... sortudas, ricas e até azaradas;
... livres, trabalhadoras e até ocupadas;
... submissas, autoritárias e até mandadas;
... doentes, drogadas e até recuperadas;
... polícia, presas e até vigiadas;
...-a-dias, noctívagas e até contratadas;
... palhaço, artistas e até choradas;
... soldado, poetisas e até acantonadas;
... serenas, activas e até revoltadas
... cantoras, desconhecidas até cantadas;
... santas, mártir e até endeusadas;
... bruxas, crentes e até enfeitiçadas;
... históricas, dramáticas e até injustiçadas
... tristes, alegres e até apaixonadas;
... esposas, amantes e até enamoradas…
_______
Pedro Arunca
2008/01/23
21/01/2008
Segunda-feira
Consentir uns minutos
ao calor dos lençóis
Um duche apressado
Fica o espelho embaciado
Ver o tempo na janela
e os minutos contados
Vestir a pele do dia
para voltar à corrida
na maratona da vida
O café da manhã
mexido com sono
Tomar com coragem
as notícias dos jornais
São amargas demais
Rotina de cumprimentos
Nos rostos de sempre
caras de poucos amigos
O relógio fica lento
Ao salário sobra tempo
_______
Pedro Arunca
2008/01/21
12/01/2008
Hoje vou sair
Um dia normal, como para muita gente.
Não te telefono nem mando mensagens
Fico no meu canto. Talvez leia um livro ou escreva uns versos.
Hoje não ligo para ninguém!
Falámos há dois anos, era Natal. Muito tempo para quem não esquece.
São longos os dias de Inverno. Só a esperança me aquece.
Devo ter paciência de santo para esperar por ti, sem qualquer sinal.
Também as árvores o fazem com as aves que partiram e a Primavera ainda vem longe.
Hoje não ligo para ninguém!
Não resisto à tentação de abrir o álbum de fotos que restou.
Um sentimento estranho apodera-se de mim.
Estou diferente mas algo, que não vejo, permanece.
Aquela t-shirt azul que me ofereceste, ainda a tenho.
Usei-a no Verão que passou.
Hoje não ligo para ninguém!
Liguei o computador e fiz um poema.
Vou sair esta noite. Minhas saídas são poucas.
Quero esquecer o amor no barulho e nas luzes num bar das docas.
Hoje não ligo para ninguém!
__________
Pedro Arunca
2008-01-12
09/01/2008
Há poemas que...
Falam de aventuras
Contam histórias
Lembram amarguras
Relatam viagens
Fazem canção
Evocam coragem
Ensinam lição
Agitam as emoções
Espantam a solidão
Tocam os corações
Morrem de paixão
Cantam seus heróis
Adoram os astros
Seguem os girassóis
Enchem repastos
Embalam o sono
Despertam o amor
Resumem o sonho
Recordam o sabor
Vingam o ódio
Falam de Deus
Calam o Demónio
Invocam Zeus
Rodam com alegria
Revelam desejos
Agradecem o dia
Descrevem os beijos
Rimam nas feiras
Alimentam raízes
Ganham bandeiras
São hinos de países
Gritam de revolta
Choram a tristeza
Vivem sob escolta
Procuram a certeza
Pisam o palco
Marcham na rua
Apelam a algo
Lutam pela Lua
Cavam fundo
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Pedro Arunca
2008-01-09
08/01/2008
Poema do desafio
Percorri os dias, afoito
Com planos já no ar
No calendário “2008”
Escrevi “Viver o Mar”
Tinha eu terminado
Num dia de “Céu cinzento”
”Teu poema inacabado”
Foram versos do momento
Reli “ O Natal em nós”
Promessas por cumprir
São como rios sem foz
Viajar não é “Partir”
Gosto de “Semear palavras”
Nas leiras com um fio
Dar de comer às cabras
É esse o meu “Desafio”
Recuso “Cartas viciadas”
Nestes tempos conturbados
Moedas e caras apagadas
Prefiro lançar os dardos
Há um tempo para tudo
E um dia para todos
Sabe bem o do Entrudo
Dão vinho aos bobos
Bebem e ressacam
Tomara que fosse água
Nem os santos escapam
Alegria após a mágoa
Poupariam o vizinho
E muitos trambolhões
Viva o nosso "S.Martinho"
E todos os santos foliões
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Pedro Arunca
2008/01/08
* Desculpa-me não passar o desafio. Quem por aqui passar e o ler que aceite se for vontade sua e, já agora, manifeste-o nos Comentários. Obrigado
Pedro