30/07/2008

Aprender a fazer nós

Viver no lamento
Mata a nossa alegria
Alivia o sofrimento
Ver o nascer do dia

Cada um com sua cruz
Qual delas a mais pesada
Se o tamanho não reduz
Encurtemos a caminhada

Quanto maior é o percurso
Mais custa carregar
Procurar outro curso
Talvez possa aliviar

A própria Natureza
Nos dá boas lições
A água das represas
Escapa nas evaporações

Ninguém se gabe de amar
Sem nunca ter sofrido
Há caír e levantar
E o saber aprendido

O amor não se reclama
Nem se sujeita a nada
Só damos pela chama
Com a pele já queimada

Muitas estrelas tem o céu
Cada um procura a sua
Há a quem baste o que é seu
E quem dispute a Lua

A vida é uma montanha
Onde não chegamos sós
Com uma corda não é façanha
Se dos erros fizermos nós

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Pedro Arunca
2008-07-30

29/07/2008

Minha caravela


A lápis e pincel
fiz o meu primeiro barco
Numa folha de papel
fui Dias, Gama e Zarco

Linha curva na horizontal
e dois arcos inclinados
uniam outra linha igual
em ângulos calculados

Havia uma enorme vela
e um sol imponente
Da minha caravela
partia um palmo de gente

No porão cabiam os sonhos
e outras mil invenções
Não levava monstros medonhos
nem outras inquietações

A cruz dos Descobrimentos
pelo mar azul imaginado
Erguia monumentos
em cada porto alcançado

Das minhas viagens
só me lembro das partidas
e de fazer as ancoragens
nas histórias muito lidas

Os piratas ficavam nos livros
fechados a sete chaves
Os primatas davam gritos
Assustadas, fugiam as aves

Naquele pedaço de papel
cheio de côr, céu e mar
cabia o mundo nele
havia espaço para sonhar

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Pedro Arunca
2008-07-29

07/07/2008

Pilita

Rija enquanto durou
Agora, amolengou
Antes que a cobra morda
Vou atá-la numa corda
Pra na me fugir
Preciso da sacudiri
Leva tempo pá acordari
Já nem se sabe esticar
Más lenta cum caracoli
Enrola-se no mê lençoli
Ninguém a tira dali
Deu em perguiçar
Nada a faz levantar
Já não dá com o monti
Nem bebe água na fonti
Que bicho lhe mordeu?
Parece defunta que morreu
Deu-lhe pra enjoari
Nem lhe apeteci cheirar
Na juventude fazia inveja
Tinha más gás cuma cerveja
Sempre pronta pra brincar
Cu diga a minha Maria
Era nôte e era dia
Até as mulheres lá da vila
Marcavam lugar na fila
Para eu lhas mostrar
Uma moira a trabalhari
Motivo do mê orgulho
Fazia cá um barulho
Entrava pelos quintais
Espantava os animais
Eram duas, três e quatro
Da cozinha até ao quarto
E até debaixo da cama
A bicha tinha fama
Punha todo num alvoroço
Desde mê tempo de moço
A idade na perdoa
Levara um vida boa
Depois de tanto caçari
Merece descansar
Já contava mê avô:
“nenhuma rata me escapou”
Está no sangui das gerações
Nada de confusões
Esta história aqui escrita
É a da minha gata Pilita
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Pedro Arunca
2008-07-07