24/10/2007

Palavras desertas

Caminhar, sob sol ardente, na direcção do oásis.
Miragem?
Sombras, no horizonte, decalcadas nas dunas.
Tu?
Núvens que se agigantam pairam sobre mim.
Chuva?
Ventos rodopiantes moldam-me o corpo.
Tu?
Surge uma caravana. Peço água.
Tu!
Esqueço a sede. Bebo da tua boca.
Beijos!
Doces tâmaras saciam minha fome.
Teus seios!
Envolvente brisa. Refrescante elixir.
Teu corpo!

Estas palavras foram dedicadas a Alif e à sua amada Odasélia.
Alif era um beduíno que se perdeu, por amor, numa tenda onde conheceu Odasélia. Ela tinha: nos olhos, as estrelas da noite; na voz, o silvo do vento; no corpo, um oásis. Amaram-se, em todas as dunas, durante muitas luas. Um dia choveu tanto que se apagaram as pégadas de Alif. Os trilhos e as dunas ficaram irreconhecíveis. Ele perdeu-se num deserto de muros de cimento. Ela, depois, perdeu-se em muitos braços.
___________
Pedro Arunca

1992

3 comentários:

avelaneiraflorida disse...

LINDISSIMO POEMA!

Adoro a poesia árabe que comecei a conhecer algum tempo atrás...
Simplesmente deslumbrante...
"BRigados" por este post!!!!

UM BOA NOITE!!!1

Paula Raposo disse...

Tão bonito!! Gostei muito.

Anónimo disse...

Os escritos são laços que nos unem, na simplicidade do sonho... São momentos!
Bjus!