15/10/2007

A minha avó tinha um gato

A minha avó tinha um gato
que brincava no meu sapato.
Não gostava de sobremesa
mas cheirava de certeza.
Sempre que eu chegava,
ele me cumprimentava.
Dormia no meu colo
e gostava de consolo.
De orelhas em alerta,
despertava pela certa,
se alguma coisa ouvia.
Lá ele me fugia.
“Bicho, bicho” - chamava eu –
Acho que nunca me respondeu.
Quando à noite se escapava
o galinheiro acordava.
Os cães presos, num alvoroço,
de vigia a um osso
não paravam de ladrar.
Só o gato podia caçar.
Teriam, eles, inveja
da vida de Sua Alteza?
Por vezes não aparecia,
nem de noite nem dia.
Tinha eu pouca idade,
fiz-lhe uma maldade:
Parecia uma bala!
Maldita bengala!
Nunca mais apareceu.
Foi a mim que mais doeu.
À minha avó, nunca contei.
Jamais o esquecerei.
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Pedro Arunca
2007-10-15

1 comentário:

foryou disse...

Tenho duas gatas mas não me atrevo a fazer-lhes maldades, até porque a minha avó sempre disse que tinha um dedo que adivinha e eu não arrisco levar com a bengala