25/06/2007

Andar devagar

Precisamos de mais tempo para apreciar cada momento.
Parar, escutar e olhar falar, gravar e fotografar:

o desenho feito na calçada
a porta de madeira talhada

a varanda vestida de flores
os vasos de todas as cores
a pequena flor amarela
o gato que espreita à janela

a roupa presa com mola
o periquito a cantar na gaiola
o eléctrico que vai lento
os rostos talhados pelo tempo
a idosa que sobe a calçada
o garoto que manda piada
o sem-abrigo deitado
o cartão empilhado
o Mercedes topo de gama
o Fiat sujo de lama
as paredes com grafite
as mãos com artrite
o desabafo confidente
a queixa de quem sente
os cartazes de publicidade
os excessos de velocidade
as tascas de rostos parados
os copos e pratos aviados
as pombas e os pardais
as despedidas no cais
os namorados no jardim
os lagos e peixes sem fim.

Tudo fica diferente:
a cidade, as ruas e a gente
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Pedro Arunca
2007/06/25

07/06/2007

África nela

Seus cabelos
lianas
seus olhos
clareiras
seu rosto
mistério
suas mãos
conchas
seu coração
tambor
seu corpo
terra
suas lágrimas
diamantes
seu sorriso
aurora
sua voz
chuva
seus gestos
brisa
seu andar
felino
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Pedro Arunca
2007/06/07

02/06/2007

Acordar

Caminhar
cego, de luz.
Teu brilho, etéreo
fere e seduz.

Chegar
farto, de dor
Teu corpo, mistério
íman e gerador

Sonhar
tolhido, de amor
Teu coração, distante
gelo e dissabor

Acordar
agitado, de mágoa
Tua imagem, presente
fogo e água

Palavras
quentes, de lume
Tua sombra, fria
lâmina e gume

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Pedro Arunca
2007/06/02