28/01/2008

Poema alentejano

Andava passeando
encontréi o mê amori
Pus-me estressando
Tal era o mê calori
Tropecei num caracóli
Fui c'as bentas ao chão
Estendido ali ao sóli
Pedi logo a sua mão
A moça tod'encarnada
disse qu´eu era louco
dê-me uma estalada
e disse qu'era pouco
Mas a cousa piorou
quando ma declarei
Disse-lhe tudo o que sou
e ali mesmo m' atirei
Home de poucas letras
mostrei minhas virtudes
Na me fio cá em tretas
Assumi as atitudes
Levei mais um murro
vi mas de mil estrelas
Mais esperto é mê burro
que sabe escolhe-las
na se mete nas encrecas
e está sempre a comer
Más tardi cand'acordei
ca barriga a dar horas
lá m'alevantei
dorido e com demoras
Nã sê se foi do tinto
ou talvez das chouriças
Fora compadre Jacinto
que m'arreara nas bêças
_______
Pedro Arunca
2008/01/28

23/01/2008

Há mulheres...

... charmosas, radiantes e até perfumadas;
... tímidas, furtivas e até ousadas;
... frágeis, atrevidas e até magoadas;
... corajosas, impulsivas e até apagadas;
... ambiciosas, dinâmicas e até realizadas;
... decididas, sensíveis e até desesperadas;
... cultas, atentas e até abandonadas;
... modelo, sexy e até ignoradas;
... comuns, discretas e até amadas;
... filhas, mães e até educadas;
... felizes, solteiras e até casadas;
... faladoras, de burca e até caladas;
... vaidosas, convencidas e até adoradas;
... de ninguém, viúvas e até desejadas;
... negras, claras e até pintadas;
... famintas, satisfeitas e até conformadas;
... honestas, fiéis e até enganadas;
... virgens, prostitutas e até frustradas;
... sortudas, ricas e até azaradas;
... livres, trabalhadoras e até ocupadas;
... submissas, autoritárias e até mandadas;
... doentes, drogadas e até recuperadas;
... polícia, presas e até vigiadas;
...-a-dias, noctívagas e até contratadas;
... palhaço, artistas e até choradas;
... soldado, poetisas e até acantonadas;
... serenas, activas e até revoltadas
... cantoras, desconhecidas até cantadas;
... santas, mártir e até endeusadas;
... bruxas, crentes e até enfeitiçadas;
... históricas, dramáticas e até injustiçadas
... tristes, alegres e até apaixonadas;
... esposas, amantes e até enamoradas…

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Pedro Arunca
2008/01/23

21/01/2008


Segunda-feira

Abrir os olhos no escuro
Consentir uns minutos
ao calor dos lençóis
Um duche apressado
Fica o espelho embaciado

Ver o tempo na janela
e os minutos contados
Vestir a pele do dia
para voltar à corrida
na maratona da vida

O café da manhã
mexido com sono
Tomar com coragem
as notícias dos jornais
São amargas demais

Rotina de cumprimentos
Nos rostos de sempre
caras de poucos amigos
O relógio fica lento
Ao salário sobra tempo

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Pedro Arunca
2008/01/21

12/01/2008

Hoje vou sair


Hoje não é um dia especial, sequer um dia diferente
Um dia normal, como para muita gente.
Não te telefono nem mando mensagens
Fico no meu canto. Talvez leia um livro ou escreva uns versos.

Hoje não ligo para ninguém!

Falámos há dois anos, era Natal. Muito tempo para quem não esquece.

São longos os dias de Inverno. Só a esperança me aquece.
Devo ter paciência de santo para esperar por ti, sem qualquer sinal.

Também as árvores o fazem com as aves que partiram e a Primavera ainda vem longe.

Hoje não ligo para ninguém!

Não resisto à tentação de abrir o álbum de fotos que restou.

Um sentimento estranho apodera-se de mim.
Estou diferente mas algo, que não vejo, permanece.
Aquela t-shirt azul que me ofereceste, ainda a tenho.

Usei-a no Verão que passou.

Hoje não ligo para ninguém!

Liguei o computador e fiz um poema.
Vou sair esta noite. Minhas saídas são poucas.
Quero esquecer o amor no barulho e nas luzes num bar das docas.


Hoje não ligo para ninguém!

__________
Pedro Arunca
2008-01-12

09/01/2008

Há poemas que...

Avivam memórias
Falam de aventuras
Contam histórias
Lembram amarguras

Relatam viagens
Fazem canção
Evocam coragem
Ensinam lição

Agitam as emoções
Espantam a solidão
Tocam os corações
Morrem de paixão

Cantam seus heróis
Adoram os astros
Seguem os girassóis
Enchem repastos

Embalam o sono
Despertam o amor
Resumem o sonho
Recordam o sabor

Vingam o ódio
Falam de Deus
Calam o Demónio
Invocam Zeus

Rodam com alegria
Revelam desejos
Agradecem o dia
Descrevem os beijos

Rimam nas feiras
Alimentam raízes
Ganham bandeiras
São hinos de países

Gritam de revolta
Choram a tristeza
Vivem sob escolta
Procuram a certeza

Pisam o palco
Marcham na rua
Apelam a algo
Lutam pela Lua

Cavam fundo
Lançam semente
Mudam o Mundo
Acordam gente
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Pedro Arunca
2008-01-09

08/01/2008

Poema do desafio

O Art of Love*, do "Se eu blogo logo existo..." presenteou-me com este desafio: pegar nos meus dez últimos títulos aqui publicados e a escrever um texto coerente. Como navego (sem carta e à deriva) no mar da poesia, cá vai:

Percorri os dias, afoito
Com planos já no ar
No calendário “2008”
Escrevi “Viver o Mar”
Tinha eu terminado
Num dia de “Céu cinzento”
”Teu poema inacabado”
Foram versos do momento
Reli “ O Natal em nós”
Promessas por cumprir
São como rios sem foz
Viajar não é “Partir”
Gosto de “Semear palavras”
Nas leiras com um fio
Dar de comer às cabras
É esse o meu “Desafio”
Recuso “Cartas viciadas”
Nestes tempos conturbados
Moedas e caras apagadas
Prefiro lançar os dardos
Há um tempo para tudo
E um dia para todos
Sabe bem o do Entrudo
Dão vinho aos bobos
Bebem e ressacam
Tomara que fosse água
Nem os santos escapam
Alegria após a mágoa
Poupariam o vizinho
E muitos trambolhões
Viva o nosso "S.Martinho"
E todos os santos foliões
_______
Pedro Arunca
2008/01/08

* Desculpa-me não passar o desafio. Quem por aqui passar e o ler que aceite se for vontade sua e, já agora, manifeste-o nos Comentários. Obrigado
Pedro